domingo, 9 de junho de 2013

Onde nos perdemos?

#Crônica


Onde é que a gente se perdeu? Ou não nos perdemos? A vida não nos tira o que é nosso, mas nós, humanos errantes, temos a capacidade de nos perder por aí. Perdermo-nos de nossas coisas, de nossos sonhos, de nossos bichinhos de estimações, dos amigos, dos amores e de tudo quanto mais concorre a nossa existência. E por quê? Por que um dia a gente resolve colocar de lado tudo aquilo que sim, tem um fundamento e significa alguma coisa? Por que fazemos isso? Por que boicotamos o que nos é bom? Será mesmo que sabemos o que temos, tínhamos e podemos ter?

Perdemos as nossas coisas simplesmente porque estamos amontoando outras tantas. Sim. Estamos juntando por juntar e assim, colecionamos o que não nos interessa de fato e não torna os nossos ambientes, a olho nu, a nossa carinha. Perdemos espaços por essa mania de juntar coisas indevidas, objetos sem valor nenhum. Perdemos as nossas coisas por debaixo (demais) de uma infinidade de situações sem um resquício de sentido. Perdemos e não temos coragem de fuçar e procurar o que realmente nos faz um pouco mais felizes e melhores.

Perdemos os nossos sonhos por mero capricho, achando que coisas reais o tempo todo é o mais importante. E quem foi que disse mesmo que sonhos não podem se tornar realidade? Quem foi que disse que não se deve sonhar? Perdemos porque somos práticos e queremos coisas e situações práticas. Perdemos os sonhos e damos lugar a coisas concretas. Deixamos de lado os abstratos para dar vida a matéria bruta. Sem sonhos, jamais somos capazes de tornar as coisas, mesmo que sempre iguais, mais o nosso jeito, mais a nossa cara, mais a ver conosco mesmo. Sem sonhos, esses que por ventura de nosso irracional modo de querer ser racional, vamos vivendo sem perceber e sentir os gostos das coisas.

Perdemos a capacidade de criar direito um cachorrinho por que ele supostamente dá trabalho. Perdemos o amor do zelo pelo gato porque de vez em quando, ele some. Perdemos o amor por qualquer que seja o animal, domesticado ou não, porque nós, bichos humanos, estamos insensíveis ao cuidado. Nesse momento, recorremos a um aplicativo qualquer no celular e passamos a cuidar de bichinhos virtuais. Alimentamos, damos banho, brincamos e quando nos enche o saco e cansamos, simplesmente vamos lá e excluímos o mesmo aplicativo. É a comodidade que invade nossas casas, escolas, grupos. Cuida-se do que não tem vida real e o que poderia representar um tipo de evolução na nossa forma de ser gente, é anulada e excluída junto com milhares formas de ser e viver virtualmente. Cachorro faz caquinha, gatos somem e daí? 

Perdemos os amigos porque eles crescem ou não crescem como a gente. Perdemos os amigos porque eles ou nós precisamos estudar, trabalhar, cumprir o ciclo natural da vida que é sofrer com a vida adulta. Perdemos os nossos amigos porque agora temos amigos virtuais e eles, com toda certeza, são mais legais e descolados. Perdemos nossos amigos porque temos preguiça de sair de casa sábado à noite. Perdemos nossos amigos porque na televisão vai passar um programa que de jeito nenhum estou preparado a deixar de lado. Perdemos e vamos dar conta disso, quando os amigos virtuais começam a nos deixar de lado nos bate-papos ou quando a internet não tiver mais aquela rede-social legal. Vamos perceber que perdemos nossos amigos quando a programação da tv à cabo não for mais assim tão bacana. E aí? Nada. Aposto que se procurarmos nossos amigos, eles estarão sempre dispostos a nos dar aquele abraço e relevar o tempo de torpor pelo qual passamos.

Perdemos o amor. Perdemos o amor. Perdemos o amor. Perdemos o amor. Podíamos repetir isso por cem, mil vezes, mas ainda dá tempo. Dá tempo para percebermos que o amor está ali onde sempre esteve. Que se manteve como antes. Nós que aprofundamos em casos e rolos que não valeram a pena e por isso, sentenciamos banalmente esse sentimento, que vivido de maneira errada, torna-se conceito de desmoralização. Perdemos o amor porque temos medo de amar, simples. Perdemos o amor porque estamos ocupados em brincar com esse sentimento. Perdemos porque o irreal é mais gostoso e mais uma vez, o virtual é menos complicado. Perdemos o amor porque ainda não somos capazes de amar com toda nossa força e nosso entendimento. Perdemos porque ainda não estamos crescidos o suficiente para entender que às vezes, é preciso silenciar-se... Perdemos e estamos perdidos, afastados do amor. Perdemos porque ainda nos deliciamos somente com as vulgaridades. Entendam. O que é sem compromisso continua sendo algo sem compromisso e ponto. Porém. Não se deve julgar pelo mais ou menos. Por fim. Perdemos o amor, porque ainda não nos amamos profundamente e isso, é outra história.

Então! Perdemos e estamos perdidos. Mas quando perdemos, já nos foi ensinado a procurar e se estamos perdidos, alguém foi designado a nos encontrar. Não importa. É questão de se abrir a vida e suas nuances de permissões. Medos? Temos aos montes. Mas o medo não deve ter força de nos paralisar a tal ponto de deixar com que o que somos, se perca por ai sem previsão de encontro. Você se perde? Deixe alguém te encontrar! Perdeu alguma coisa que realmente tem um significado? Procure até encontrar e caso necessite de ajude, não ouse negar de fazer apelos. A vida é pra quem se permite aos encontros. Depois das perdas, os reencontros. Nos reencontros, um novo início. Afinal de contas, o sol nasce todo dia simplesmente para nos mostrar que sim, devemos continuar e se necessário for, mudar a rota, mas, sem deixar para trás o que ainda tem a capacidade de dizer muito a nosso respeito. E se o sol que nos dá exemplo de recomeçar não surgir, o tempo, esse sabe bem como devemos encarar as coisas e a vida - que temos e queremos ter!

Um comentário:

  1. Tive que concordar. Acho que as vezes "deixamos" o amor morrer em detrimento do "ah, não vale a pena", dai a gente sofre à toa. O amor é pra quem sabe insistir, por que nada vem fácil e eu acho que o amor é uma dessas coisas que valem a pena lutar e fazer alguém acreditar. Belo texto.

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